» » » » » » » Mauricio de Sousa conta planos para o futuro da Turma da Mônica: "Eu quero crescer"

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Em meio aos parques mais cobiçados do mundo, em Orlando, no Estados Unidos, um jovem norte-americano com um Sansão gigante nos braços e alguns gibis da Turma da Mônica aguarda aquela que é a maior atração do local: Mauricio de Sousa. "Eu aprendi a falar português para falar com você", diz Christian Ellis, visivelmente emocionado.

“É muito bom receber o carinho do pessoal que nos acompanha. É um carinho doce, que não pede nada em troca”, afirma o cartunista de 86 anos, que rouba a cena na Disney e na Universal, principais atrações da cidade em que passou pouco mais de 10 dias de férias com a família, acompanhados pela equipe de Quem com exclusividade.
Além da mulher, Alice Takeda, de 72 anos, participaram da aventura o filho Mauro Sousa, 35, e seu marido, Rafael Piccin, 36; a filha Marina Takeda, 37, com o marido, Rafael Cameron 30, e o pequeno Martin, de 2 anos. Assim como os amigos Daniel Cabral e Ester Bueno, com o filho Bernardo, e Rosemeire Cameron e Mariara Piccin.
Viajando com ‘Os Mauricio’
O efeito causado por Mauricio de Sousa é consequência de 60 anos dedicados à turma do bairro do Limoeiro e que até hoje cativa pessoas de 0 a 99 anos de idade, como brinca ele mesmo. “Fico maravilhado e me sinto agradecido por ter escolhido essa profissão, que relaxa, reativa, reconforta”, diz, tranquilo e sorridente.
Ele começou a desenhar ainda criança, quando ouvia histórias de sua avó, Benedita, e as transformava em tirinhas, depois vendidas aos amigos em troca de fósforos para que essa mesma avó pudesse acender o fogo em casa. Criado em um lar de artistas, com pai, Antônio, e mãe, Petronilha, adeptos da poesia e da música, ele cultiva uma mente criativa e vontade de inspirar a todos.

Por cinco dias, acompanhamos o cartunista e sua trupe em um passeio por Orlando, com visitas ao Magic Kingdom, Animal Kingdom, EPCOT, Universal, Sea World, Discovery Cove e ICON Park, onde ele e a família prestigiaram o lançamento de um ônibus de turismo da GoPegasus, que estampa os personagens da Turma e ajuda a realizar uma vontade do “pai” de Mônica, Magali, Cascão, Cebolinha e companhia: ganhar o mundo.

E esse plano infalível (de verdade) vamos entender melhor daqui a pouco."Aprendi muito com meus filhos, principalmente sobre uma vida comum e feliz. Com eles também aprendi a ser criança"

Mauricio de Sousa em: as muitas infâncias
Os primeiros dos 400 personagens criados até hoje por Mauricio nasceram em 1959, quando ele tinha 24 anos e deixou a carreira de repórter investigativo para se tornar cartunista oficialmente. De lá para cá, viu mais de seis gerações diferentes de leitores, todas servindo de inspiração para a criação das histórias.

“Crianças são as mesmas no mundo todo. Gostam e não gostam das mesmas coisas, então se você tem filhos, é próximo de crianças, você está constantemente aprendendo esse comportamento universal”, avalia. “Deve ser por isso que há mais de meio século seguimos conversando com crianças, adultos e idosos”, conclui.


E uma criança em especial tem inspirado demais o artista. Seu neto Martin, que completou dois anos de vida durante a viagem, planejada exatamente para garantir uma celebração especial para ele, o caçula entre os 12 netos de Mauricio, que tem também 4 bisnetos.


“Fico feliz com a felicidade dele! Mesmo com pouca idade, demonstrando alegria diante dos símbolos do aniversário: bolo, velinha, parabéns. É um momento que entra na cabecinha dele e vai ficar para sempre”, aposta.Ele faz questão de ressaltar o apreço pela família reunida - mesmo que seja difícil conciliar as agendas de todos. Contando com Mauro e Marina, Mauricio tem ao todo dez filhos, sendo Mariângela, Mônica, Magali e Mauricio do primeiro casamento, com Marilene Sousa - o filho, infelizmente, morreu em 2016, aos 44 anos. As gêmeas Vanda e Valéria são fruto do segundo matrimônio, com Vera Lúcia Signorelli.

Com Alice Takeda ele teve também (outro) Mauricio. Por fim, o mais novo, Marcelo, é fruto da relação do cartunista com Marinalva dos Santos.“Aprendi muito com meus filhos, principalmente sobre uma vida comum e feliz. Eles nunca brigaram ou ficaram de mal”, reforça, com orgulho. “Com eles também aprendi a ser criança, me lembrava da minha infância e gostava de vivenciar a infância por meio deles também, diversas infâncias para uma vida só. Muitas histórias que criei vieram de brincadeiras entre eles”, lembra.Marina e a revolta do gibi!

É um costume do cartunista criar personagens baseados em seus filhos, como vemos com Mônica e Maria Cebolinha, por exemplo. Entre eles, também está Marina, que aparece como filha do autor nas histórias e divide com ele seu dom para a arte. “Ela desenha meus personagens melhor do que eu. Marina pode ser a artista que quiser, tem muito talento”, elogia.

Mas se engana quem pensa que foi fácil para garantir essa vaga na seleção do pai. Uma pequena Marina decidiu ir à luta e impor sua vontade. Quando ainda era criança, seus dois irmãos Mauro e Mauricio, tinham personagens. Respectivamente, Nimbus e Do Contra. Então, nada mais justo que ganhar um lugar ao Sol também, não é?

“Invadi o escritório do meu pai, revoltada, e perguntei: ‘e aí, não sou sua filha, não?’”, lembra, se divertindo com a própria ousadia. Ao ouvir que era representada na braveza de Mônica, a jovem reivindicou sua própria personalidade e algumas semanas depois, foi transportada ao papel.


“Eu me identificava muito com ela, porque sempre fui muito próxima do meu pai. Sentava ao lado dele, enquanto trabalhava, e ficava lendo o que ele fazia, então éramos muito próximos e existia uma identificação muito grande. Fiquei muito feliz quando vi o gibi”, afirma ela, que hoje é responsável por supervisionar todo o conteúdo da MSP.


"Importante para a longevidade termos um bom papo, que nos leva a criar, imaginar, até fantasiar"

Alice e Mauricio - o traço e a arte final

E se o universo da Turma da Mônica é capaz de criar grandes histórias de amizade, por que não uma de amor? Foi por meio da arte que Mauricio conheceu Alice Takeda - e hoje são mais de 45 anos de relacionamento e muitos causos para contar.

Enquanto para algumas pessoas o trabalho e a vida pessoal têm que estar bem separados, esse casal acredita que é a junção de tudo que faz a relação dar certo. “Acho que o segredo é um completar o outro, e o trabalho nos completa. A arte é o nosso mundo”, avalia a artista, que é editora de arte na MSP, onde trabalha há mais de 55 anos.

“Nosso papo é muito gostoso! É sobre criatividade, crianças. Importante para a longevidade termos um bom papo, que nos leva a criar, imaginar, até fantasiar. Isso é muito bom”, completa ela, que também é escultora.


Mauricio não poupa elogios à companheira, que define como “uma das pessoas mais românticas que conheço” e uma grande artista. “Já desenhei muito para ela (risos). Em centenas de momentos, eu fazia um desenho e ela finalizava. Esse casamento do traço com a arte final é a definição do nosso amor, que assim como tudo, compartilhamos com nossos leitores por meio das histórias”.

Rafa e Mauro em: a adrenalina e o amor

A história de amor de Alice e Mauricio parece se repetir ainda dentro da família. Mauro e Rafael Piccin, que estão juntos há 15 anos, também dividem a vida pessoal com o trabalho na MSP, onde ambos atuam. Para eles, a relação tem o equilíbrio necessário e flui bem dessa maneira.


“É demais ver a interação entre eles e como eles mantêm esse espírito na relação, dentro e fora do ambiente de trabalho. Acredito que eu e o Mauro temos essa energia, muito em harmonia, e por isso tem dado certo”, avalia Rafael, gerente de produção e no comando do comitê de diversidade e inclusão na MSP.


Acompanhar o casal na viagem exigiu fôlego da equipe, já que não houve montanha-russa que passou batida por ambos, vidrados em adrenalina, esportes e que não gostam de ficar parados.

“Isso se reflete muito na nossa vida. Temos uma agenda que gostamos de deixar bem cheia de coisas de trabalho, atividades sociais. A gente gosta de arrumar coisas para fazer o tempo inteiro e se diverte muito com isso. É uma correria”, brinca Rafael.


Mauricio se alegra em ver o casamento do filho caminhar em harmonia. “É uma beleza! Deixa a família estruturada e funcionando bem, com todo mundo se entendendo. Não sinto crise na família e sempre acontece de eu ser consultado, mas eu até fujo um pouquinho, porque é bom ver tudo acontecer como deve ser (risos)”.

O Sansão do entretenimento

Não importa a idade que você, leitor, tenha, a Turma da Mônica já cruzou o seu caminho. Seja pelos tradicionais gibis, que somam mais de 1,2 bilhão de cópias vendidas, ou nos vídeos do canal no Youtube, que ultrapassam 17 bilhões de visualizações. Talvez até mesmo em dos mais de 4 mil produtos diversos que estampam os personagens da turminha.


Recentemente, os principais personagens dos quadrinhos ganharam vida no live action ‘Tuma da Mônica - Laços’ e sua sequência ‘Lições’, além da série da Globolpay, com um elenco de peso e boa recepção entre todos os públicos. Mas o que explica tanto sucesso?


Para Mauro Sousa, a marca é universal e atemporal, por isso consegue dialogar com diferentes públicos e faixas etárias. “Estamos atualizados. Nós falamos aquilo que está sendo dito nas salas de aula, em casa, nas redes sociais e eu atribuo muito nosso sucesso a isso. Conseguimos acompanhar o mundo no ritmo do mundo”.

Ele é responsável pelas experiências ao vivo com o público, como espetáculos (vistos por mais de 6 milhões de pessoas) e parques de diversões. “Quando se trata de Turma da Mônica, a expectativa é de projetos de qualidade. E quando falamos de live experience com os personagens, estamos falando de proporcionar uma experiência emocionante, inesquecível, que vai tocar o coração das pessoas e durar para sempre. Então, criar esse sentimento é uma responsabilidade grande e difícil, mas é nosso trabalho. Tem que ser nosso foco sempre”.


Atualmente, a Turma da Mônica possui um parque em São Paulo, além de Estações de entretenimento espalhadas pelo país, e irá inaugurar a Vila da Mônica, em Gramado (RS), no dia 12 de outubro. Essas atrações, que são administradas por licenciados com know-how no mercado, não ficam atrás do que se encontra fora do país. “Observando o cenário nacional, nossos parques são referência no Brasil, em termos de qualidade, entretenimento e atendimento”, analisa Mauro.


Ao visitar parques como o Magic Kingdom, Animal Kingdom, EPCOT, Universal, a família não deixa de prestar atenção nos detalhes, para garantir referências que podem ser utilizadas no Brasil. “Com certeza, nós nos inspiramos no que vemos por aqui. É sempre interessante acompanhar a organização, evolução e as atrações em si, porque também temos nossos projetos no Brasil e a intenção é sempre oferecer o melhor para o público”, explica Alice Takeda.


"Nós falamos aquilo que está sendo dito nas salas de aula, em casa, nas redes sociais e eu atribuo muito nosso sucesso a isso"

Felicidade além do Bairro do Limoeiro

Quando o assunto é o alcance impressionante de tudo que vem da Turma da Mônica, Mauricio faz questão de reforçar que sempre teve um objetivo, desde o momento que decidiu criar a história em quadrinhos: ser simples, agradável, de fácil entendimento e com um final feliz.


“Como deve ser a vida, de preferência. Todo mundo merece um final feliz”, acredita. Essa ideologia presente nas histórias, garante o criador, é levada para todas as plataformas e aplicada no dia a dia do trabalho.


“Sabemos que a vida tem altos e baixos. Eu tive meus baixos também, mas não deixei que fossem tão dramáticos. Como? Não ficar se machucando com o que te magoou no passado e sempre buscar coisas novas para pensar, sentir, fazer e viver. Eu não sei ser infeliz”, garante, com um sorriso genuíno no rosto.

Ele ainda brinca que o ambiente de trabalho da MSP foi criado para que esse sentimento bom pudesse contagiar os colaboradores. “Alguém pode até brincar que ‘meu trabalho me obriga a ser feliz’, mas eventualmente alguns me confessam que se contaminam com essa atmosfera”.

Em 2023, um filme sobre a vida do cartunista será lançado, em parceria com a Disney. “Acho que já estou deixando minha mensagem [para a posteridade]. A da felicidade, pelos quadrinhos, livros e agora cinema, espetáculos. Essa era a minha missão na comunicação”, afirma

Seguindo os passos do pai

Além da mensagem positiva, o que Mauricio deixa como legado são os filhos, que dão continuidade no trabalho começado décadas atrás. Ele pontua que apesar de ter familiares no núcleo da MSP, não é o parentesco que define quem se encaixa ou não na empresa.


“Eu nunca vou saber quantos, quem e quando virão os sucessores. A sucessão tem que ser mais pela filosofia do que pela dureza de imitar ou continuar um hábito. O ideal é que a gente se espalhe, parente ou não, na criatividade”, afirma.


Mauro, responsável pelas experiências ao vivo, entende que para honrar o legado é preciso manter os ideais que Mauricio faz questão de compartilhar. “Eu preciso ser uma boa pessoa, um bom profissional, trabalhando direitinho, com muito respeito e amor a tudo isso que meu pai criou”, acredita ele, eternizado como Nimbus nas histórias.

Acho que estou deixando minha mensagem [para a posteridade]. A da felicidade, pelos quadrinhos, livros e agora cinema, espetáculos"

Já Marina, editora de conteúdo, reforça que a ligação que tem com o pai é especial e vem desde a infância, quando o acompanhava no trabalho. Para ela, há responsabilidade, mas também confiança do pai no que faz, de que manterá a filosofia. Além disso, ela faz questão de exaltar o trabalho.


“Sinto que há 30 anos estamos fazendo a mesma coisa, só que antes como pai e filha e agora chefe e funcionária. E é uma delícia trabalhar com ele, ser funcionária e filha dele. Me sinto privilegiada”, garante, confessando que sempre sentiu uma pontinha de ciúmes com as demonstrações de carinho para Mauricio.


“As pessoas vinham falar ‘seu pai é como um pai para mim’ e eu pensava ‘mas ele é meu pai’ (risos). Até hoje tenho um pouco disso, mas sei que é uma coisa boa. E nós herdamos o carinho que sentem por ele, por meio de mensagens desejando coisas boas para mim, para meu filho. É gratificante”.


Mauricio admite orgulho de todo o trabalho que tem sido feito até hoje e decreta o que espera para o futuro. "O que eu desejo é que a gente continue criando coisas inéditas e, logicamente, atualizadas, que deixem uma imagem de alegria, sensações agradáveis e vontade de continuar".


"É uma delícia trabalhar com ele, ser funcionária e filha dele. Me sinto privilegiada" - Marina Takeda

A melhor idade também quer brincar

Vontade é o que não falta para o criador da Turma da Mônica. Questionado se sente que está realizado e é bem-sucedido, ele chega a pular da cadeira. “Oh, que nada! Tem muita coisa ainda, algumas que nem posso falar, para não adiantar o expediente para a concorrência", ri.

“O senhor se preocupa com concorrência? Ela existe?”, questiono. “Não (risos). No gênero, no Brasil, realmente estamos em primeiro lugar faz tempo”, reconhece. “Mas que venha mais concorrência, para a gente brigar um pouquinho. Briga saudável!”, avisa. “Numa concorrência você aprende um pouquinho mais do que quando não acontece nada”, explica.

Com ou sem concorrentes, Mauricio segue criando e buscando novidades para a Turma. Dessa vez, ele conta que refletiu sobre sua própria geração e decidiu que é preciso contar novas histórias. “Estamos pensando em uma linha de personagens idosos”, diz empolgado. Ele revela que o objetivo é fazer o licenciamento de merchandising voltado à essa faixa etária, que em geral não encontra produtos lúdicos quando deseja consumir.


“Tenho que inventar uma maneira de dar para o idoso a bola e a boneca, assim como fazemos com as crianças”, explica. Mauricio revela que a ideia partiu do questionamento de uma criança de sete anos, que diante da ‘Turma da Mônica Jovem’ indagou: “Mauricio, quando você vai fazer a Turma da Mônica Gagá?”.


Ele se diverte relembrando a história e conta que o presidente da Sanrio Co., criadora da Hello Kitty, chamou sua atenção para a carência do público entre 80 e 90 anos. “Então, estamos estudando isso agora e eles merecem ver as histórias terem continuidade”.

Que venha mais concorrência, para a gente brigar um pouquinho. Briga saudável!"

A tirinha da vida há de continuar

Com uma marca que segue atingindo novos patamares, Mauricio confessa um desejo pessoal - que segundo ele se atualiza a cada nova etapa da vida. “Tem um plano atual nosso - na verdade mais meu - que é internacionalizar o nosso material”, conta.


“É um plano infalível?”, pergunto. “É difícil, porque não depende só de nós, exige grande investimento e condições adequadas. Mas esse não tem dedo do Cebolinha”, explica, rindo. Para ele, o segredo é manter a personalidade do conteúdo, que cativou o Brasil e tem tudo para ganhar ainda mais espaço fora dele.


“Não tem uma fórmula, além de se manter genuíno, leve e alegre. Essa é a mensagem que o mundo quer. Agora, a maneira de fazer acontecer, eu acredito, é através do trilho das produções cinematográficas, que está dando certinho”.


Em meio a tantos planos profissionais, o criador da Turma da Mônica garante que para a vida pessoal não tem grandes ambições, quer apenas testemunhar uma nova era se concretizando. “Espero estar aqui para ver tudo”, admite.

Exaltando com humor a própria memória afiada, os exames em dia e sequer uma necessidade de usar óculos de leitura, Mauricio deseja viver mais infâncias, adolescências, vidas adultas e idosas. E além de tudo, sonha dar continuidade no trabalho na forma de uma escola de artes.


“Recebo mensagens de crianças que sonham em trabalhar com a gente, então tenho que achar caminhos para facilitar a entrada dessa turma. Transformar esperança em realidade”, explica. E conclui: “Eu quero crescer".





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