No sábado que antecedeu a eleição, o atendente comercial Mauro Santos Silva, 27, não dormiu. Antes de deitar, já perto das 4h da manhã, conferiu se tudo estava certinho porque queria votar cedo. A ansiedade não era pelo processo eleitoral, que por sinal ele despreza, mas pela festa depois da democracia: ia abrir a mala depois de votar no colégio Experimental, na Vila Laura, e não tinha hora para voltar para casa. No carro, cerveja, carne e churrasqueira. Foi seu primeiro domingo de férias, portanto queria aproveitar.
Nascido e criado no bairro do Luiz Anselmo, Mauro diz que, desde a primeira vez que foi às urnas, aproveita o pós-voto no posto Menor Preço do Matatu. Chegou lá por volta das 10h. “Só quem sabe a hora de voltar é Deus”, disse sorrindo. Mauro conta que votou em ACM Neto para governador e Lula para presidente. “Mas pra mim político é tudo a mesma coisa. A gente que não trabalhe muito pra ver o doce”, praguejou.
O posto em questão é um dos points mais movimentados da região. E sem bandeira partidária definida. No mesmo local, a equipe do CORREIO conversou com o bolsonarista Paulo Marcos Souza, advogado de 36 anos; e com a petista puro-sangue, como ela mesmo se define, Juliana Macedo, de 24.
Todos falaram que o clima por lá é tranquilo. Em comum, os três têm a residência. Paulo mora na Vila Laura; Juliana no Matatu, a pouco mais de 200 m do posto. Mauro nasceu na rua ao lado. E por lá vive com a família até hoje.
Por conta do clima da polarização política do país, Juliana disse que temia a violência. Como estava muito nervosa após votar no Colégio Nossa Senhora da Conceição, em Brotas, viu a movimentação do posto e decidiu tomar uma cerveja para acalmar os ânimos. “É uma eleição que está mexendo muito comigo porque é o futuro do país que está em jogo. Não ia conseguir ficar quieta em casa, aí parei pra tomar umas cervejas, ver gente e relaxar”, disse.
Redutos e lugares neutros
Em dia de eleição, há redutos que são nitidamente alinhados a uma ideologia ou partido. O Largo de Santana, no Rio Vermelho, ou o Bar Velho Espanha, nos Barris, são historicamente ligados ao PT. O Farol da Barra, por sua vez, recebeu concentração bolsonarista. E há os locais mais neutros, onde todo mundo se mistura.
Morador de Stella Maris, Alisson Macedo cresceu no final de linha do Garcia e até hoje vota no bairro, onde parte da família vive. Ele vota no Colégio Antônio Vieira. “Sempre tem festa aqui. Em dia de eleição, acabo vendo muita gente com quem cresci, vejo minha família. É gostoso o clima e você pode ver que tem de tudo. Graças a Deus, não tem confusão. É mais a galera do bairro mesmo", conta.
Moradora da Cidade Nova, Ana Paula Santos Souza, 34, sequer foi votar. Mesmo caso da irmã, Ana Laura, que vive no bairro da Caixa D’Água. As duas curtiam uma festa na Ladeira do Paiva, próximo ao Colégio Estadual de Aplicação Anísio Teixeira. Ambas são de Serrinha, sendo que Ana Laura ainda vota lá. Paula transferiu o título, mas alegou ter ficado com preguiça de se deslocar até o colégio Luiz Viana, maior colégio eleitoral da Bahia, onde vota.
“Minha festa da democracia foi aqui”, ironizou, enquanto dançava e tomava uma cerveja ao som do cantor de pagode Pittybull. A letra, inclusive, era sugestiva e tinha um pouco a ver com um dos candidatos à presidência. “Pittybull te traz a notícia. Em primeira mão pra você: enquanto Putin [presidente da Rússia] tá querendo guerra, Pittybull quer ver bunda bater. Enquanto Bozo [Jair Bolsonaro] tá querendo guerra, Pittybull quer ver bunda bater. Bate, bate, bate, bate bunda, bebê”, diz a música, tocada em alto volume e que se misturava com o cheiro de churrasquinho no ar.
O clima nas festas dos bairros que o CORREIO passou tinham pouco a ver com eleição e mais um clima de reggae num dia qualquer. Seja no Garcia, Matatu, São Rafael, Caixa D’Água ou Garibaldi. O que deu para perceber foi pouca gente acompanhando a apuração, algo comum em outros locais mais voltado para ser um encontro partidário. Algumas pessoas, no entanto, se diziam ansiosas pelo resultado. Assim que as urnas fecharam, a aniversariante Sofia Maciel, que completava 19 anos e votou pela primeira vez, começou a atualizar o aplicativo da apuração em tempo real disponibilizado pelo TSE.
Ao lado de amigos no bairro de São Rafael, ela se dividia entre alguns goles de cerveja e puxar a tela do celular para baixo em busca de atualizações. “Não sei nem se vou ter condições de lembrar o que fiz quando sair o resultado”, confessou antes de emendar para o primo, Josué, que votou no candidato adversário: “mas sua carniça vai perder!”, exclamou.