» » » » » Jovens denunciam caso de racismo por motorista de aplicativo na saída do Rock in Rio


Ao lado de Débora Letícia Sales da Costa, o analista de marketing Gustavo Ramos percebeu a mudança de postura quando o casal de amigos brancos saiu do carro. Ao g1, a Uber informou que o motorista foi desligado.

O analista de marketing de uma marca de roupas Gustavo Ramos, de 28 anos, aproveitou com os amigos a última noite do Rock in Rio até a volta para casa, quando eles pediram uma corrida de aplicativo. Ao lado de Débora Letícia Sales da Costa, ele denuncia que os dois foram vítimas de racismo pelo motorista.

Na madrugada de segunda-feira (12), Gustavo e Débora estavam um casal de amigos brancos — Thaís Marchon e o produtor musical Gabriel Lucchini. As duas mulheres são gerentes de uma marca de roupas.

Eles contam que andaram bastante pela Avenida Abelardo Bueno até conseguirem pedir a corrida da Uber.

A corrida tinha sido programada para deixar primeiro Thaís e Gabriel na casa dele, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, e o destino final era na casa de Débora, no mesmo bairro. Gustavo, então, desceria no mesmo local e pediria outro carro até a casa dele, na Glória, Zona Sul.

Os destinos não ficam em áreas de risco.

“Ao entrarmos no carro, o motorista se mostrou muito solícito, oferecendo água para nós. Meu amigo aceitou e pediu até seus dados bancários para pagar pelo serviço, o mesmo se recusou dizendo que era uma cortesia”, relembra Thaís. ”No momento, não imaginávamos que essa corrida se transformaria em repugnante pesadelo."

Ao chegar na primeira parada, Thaís e Gabriel deixaram o veículo. Segundo Gustavo, foi ali que o motorista, que era branco, mudou de postura.

Mudança de comportamento


Desconfiado, o motorista teria começado a ser grosseiro e questionar: “Que caminho é esse?”, “Para onde vocês estão me levando?”. Com problemas com o GPS, ele ainda teria dito que "não era obrigado a saber o caminho” e que não os levaria a lugar algum.

Nesse momento, Gustavo e Débora ainda estavam dentro do condomínio de Gabriel, de classe média alta.

“É muito f** você perceber que foi só o casal de amigos descer”, conta Gustavo. “Num bairro OK, com casas maneiras e, a seguir, dois jovens pretos. Isso foi suficiente para o motorista se sentir ameaçado e fazer o que fez com a gente."

Gustavo enfatizou que não usou palavrões ou xingamentos contra o motorista: “A minha vontade era xingar, mas eu não consegui ter reação."

A situação se intensificou ao ponto de o motorista dizer que seria melhor os dois descerem do veículo, às 3h23, em uma rua deserta. Enquanto Gustavo pedia para o homem concluir a corrida, Débora - nervosa e tremendo - abriu a porta. Ele então teria “arrancado” com o carro e a jovem quase caiu no chão.

Os jovens ainda estavam próximos à casa dos amigos e contaram com a ajuda deles para pedir uma nova corrida. Eles fizeram um registro de ocorrência on-line e aguardam serem chamados para depor. O caso é investigado pela 5ª DP (Mem de Sá).

Ao g1, a Uber informou que o motorista foi desligado. O caso repercutiu nas redes sociais e personalidades como a cantora Letícia Letrux, a atriz Thaila Ayala e a jornalista Titi Müller cobraram postura da empresa, que se pronunciou nesta quarta-feira (14).

Gustavo disse que não teve retorno da Uber, além de mensagens automáticas, até esta quarta-feira. No fim da tarde, ele recebeu uma ligação da empresa "lamentando o incidente” e lhe informando que o motorista havia sido “bloqueado temporariamente".

"Na conversa com Uber, falei: ’Não chame de incidente. Incidente é quando você cai, quando quebra um galho’. Se isso acontece até com a gente, imagina com quem não tem voz alguma? É uma sensação de impotência”.

Gustavo ainda contou que, após o ocorrido, ele só conseguia se preocupar com amiga e confortá-la, dizendo que tudo ficaria bem. O jovem diz que, mesmo sendo vítima da situação, não consegue deixar de se sentir constrangido.

“Não conseguia me encarar. Essa dinâmica maldita faz que a gente se culpe. Estou envergonhado, não consigo ver ninguém. Não foi o primeiro caso de racismo [que sofri], de homofobia. É sufocante."

O jovem relembrou o quanto dependeu do esforço da mãe, que trabalhava como diarista na Zona Oeste do Rio, para que pudesse estudar e ser bem-sucedido no mundo da moda e que, ainda assim, enfrenta episódios de racismo até hoje.

O analista de marketing espera ser ouvido pela polícia para saber quais medidas estão sendo tomadas.

O que diz a Uber

"A Uber não tolera qualquer forma de discriminação e a conta do motorista parceiro foi desativada assim que tomamos conhecimento do ocorrido. Em casos dessa natureza, a empresa fica à disposição para colaborar com as autoridades, na forma da lei. Além disso, em parceria com o MeToo, a plataforma possui um canal de suporte psicológico para apoiar vítimas de discriminação que também está à disposição do usuário.

A Uber busca oferecer opções de mobilidade eficientes e acessíveis a todos. A empresa reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o app.

Sabemos que o preconceito, infelizmente, permeia a nossa sociedade e que cabe a todos nós combatê-lo. Como parte desses esforços, a Uber lançou, por exemplo, uma campanha que convida usuários e motoristas parceiros para serem aliados no combate ao racismo. A iniciativa tem o objetivo de promover um conteúdo educativo dentro do próprio aplicativo e é parte de um compromisso global assumido pela empresa no ano passado com o objetivo de combater o racismo e criar produtos igualitários por meio da tecnologia. A empresa já realizou iniciativas em parceria com o Instituto Promundo, como é o caso do podcast Fala Parceiro de Respeito e em parceria com as advogadas da deFEMde, a empresa revisou o processo de atendimento na plataforma, a fim de facilitar as denúncias de racismo e acolher melhor o relato da vítima."

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