A governança do trabalho de revitalização do rio São Francisco e a gestão de múltiplos usos da água foram destacados como grandes desafios coletivos pela presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Kênia Marcelino, na tarde desta quinta-feira (11), durante o evento Diálogos Públicos: Revitalização do Rio São Francisco, promovido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em Brasília. A participação da Codevasf se deu no painel Quais os desafios na gestão dos recursos naturais e na melhoria das condições socioambientais da bacia do São Francisco?
imagens: Cássio Moreira / Codevasf
“A necessidade de uso da água é cada vez maior. A população aumenta e a necessidade de produção de alimentos aumenta, com redução de chuvas. São problemas que precisam ser enfrentados”, disse Kênia Marcelino. “Estamos discutindo a necessidade de conservação e recuperação hidroambiental da bacia. Esse é o cerne da questão para que possamos ter usos múltiplos da água, conciliar a produção energética, o abastecimento humano, a produção agrícola”, acrescentou.
A presidente da Codevasf também classificou como fundamental a integração de ações e de conhecimentos sobre o que é feito por governos federal, estaduais, prefeituras e sociedade civil no âmbito dos esforços de revitalização, bem como a modernização da agricultura irrigada. “Além de aumentar a quantidade de água, precisamos otimizar o uso das águas, e para isso devemos modernizar a irrigação, precisamos nos integrar com o setor produtivo. Um dado que temos é o de que mais de 90% dos sedimentos que estão no leito do rio vêm das áreas de produção, e não da calha do rio. Então precisamos que o setor produtivo, os estados, a assistência técnica, todos participem” afirmou.
Kênia Marcelino defendeu ainda que intervenções voltadas à conservação ambiental sejam realizadas em pequenas, médias e grandes áreas produtivas. “A gente exige que o produtor faça uso sustentável da água e do solo, mas ele também precisa de capacitação, precisa de financiamento, precisa saber como fazer isso, como usar os recursos de modo sustentável e continuar a produzir. Sozinhos, governos federal, estaduais e municipais não vão conseguir promover revitalização. A sociedade civil, empresarial e a população precisam estar envolvidos”, destacou.
Outras intervenções
Participaram do painel com Kênia Marcelino o governador de Alagoas, Renan Filho, o deputado federal Guilherme Coelho e o representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Elivásio Fraga. O painel foi moderado pelo presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, Sebastião Helvécio Ramos de Castro.
Em suas intervenções, o governador Renan Filho destacou ações que considera prioritárias e avaliou que “os municípios são as unidades federativas mais capazes de prover políticas na ponta”, de modo que precisam ser incluídos em qualquer programa de ação. “No Vale do São Francisco o fundamental é garantirmos, num primeiro momento, para a sobrevida do rio e para a sobrevida das pessoas, alguns investimentos - sobretudo no que concerne a esgotamento sanitário das cidades, a desassoreamento do próprio rio e a levarmos água para as comunidades ribeirinhas”, disse. “Feito isso, nós temos que desenvolver trabalhos na direção de inclusão produtiva da região”, afirmou.
O deputado federal Guilherme Coelho avaliou que a Codevasf é fundamental para trabalhos de revitalização e desenvolvimento. “É uma Companhia hoje forte, com capacidade técnica, com metas”, disse. “Quem tem uma Codevasf, como o governo federal tem, não pode ter medo de fazer com que esse programa de revitalização do São Francisco aconteça”, destacou o deputado.
Elivásio Fraga, representante da CNA, defendeu a necessidade de que a inclusão produtiva se dê de múltiplas maneiras, e não com foco apenas em produção irrigada. “A água é limitada. Não é possível atender a 100% de tudo o que acham que é possível fazer com a água”, disse Fraga. “A agricultura irrigada está gerando riqueza e tem que proporcionar à sociedade para a qual gera riqueza uma perspectiva de sustentabilidade”, afirmou.